“Não sei se vivo ou se observo” uma vez li essa frase num livro e carrego ela comigo no bolso. Me pergunto isso sempre que olho pra alguém e esse alguém me permite observação. Se observo, vivo o outro, por poucos minutos que seja, mas vivo seus jeitos e me sinto viva por formas que talvez jamais tivesse imaginado serem possíveis, por simplesmente serem diferentes de mim e do que conheço. O que cada um de nós passa fazendo nas 24h vividas no dia a dia é o que nos torna quem somos, então cada um é um acúmulo. Se te observo permito me esquecer dos meus próprios acúmulos e atualizo minhas informações do que é que existe por aí além do que me limita a ser eu.
O café é o tipo de coisa que nos faz abrir essa porta, em algum momento, trabalhando com xícaras e xícaras entregues em uma tarde num balcão de cafeteria. Que enquanto trabalho não raro me esqueço e passo a viver o lugar e as pessoas que passam ali. Principalmente as pessoas e as formas de aproveitar um café:
‘um gole só, a pressa em forma de gente, mão agitada, nem senta, só troca duas palavras (quero café) já com a cara dentro da xícara’
‘dois goles, do tipo tenho pressa mas me deixa sentir esse gosto aqui, gostaria muito de ficar e sentar só alguns minutos mas..’
‘três goles, sente o aroma, dá um suspiro, abre um sorriso, respira.’
Gosto mesmo é dos que sentam pra conversar, do café que é esse convite a essa observação distante de ser vivo em todas as possibilidades que não a minha. Essa observação que, por ser uma das bebidas mais dinâmicas do mundo, pode ser pano de fundo pra dar a notícia do século. Alegria e tristeza se fundem com tanta facilidade…
Aos cafés que são beijos e aos cafés que são abraços, ver a vida é tão maravilhoso quanto vivê-la.